Síndrome de Dumping é, provavelmente, a mais comum das que sucedem a cirurgias de gastrectomia, como a cirurgia bariátrica. Refere-se à ocorrência de vários sintomas juntos após a ingestão alimentar (pós-prandial). No texto, explico o que causa o problema, quais pacientes correm mais risco de manifestá-la e como pode ser tratada.
O dumping é provocado pela passagem rápida de alimentos com alta densidade energética para o intestino delgado. Isso aumenta a osmolaridade no intestino, atrai água ao lúmen intestinal, gera distensão intestinal e hipotensão. Somam-se a estes fatores as alterações na secreção gastrointestinal dos hormônios (GLP-1). Os sintomas que acometem o indivíduo são inespecíficos, por isso o diagnostico precisa ser realizado pelo médico. Contudo, há uma tabela com pontuação (tabela de Sigstad) que auxilia a identificação. Valores acima de 7 caracterizam dumping.
É mais comum após a técnica by pass – 70 a 75% dos pacientes após o primeiro ano de operado. Mas é observada também após gastrectomia vertical (conhecida como “cirurgia de sleeve“).
Mais especificamente como acontece?
A presença súbita do conteúdo gástrico na porção proximal do intestino delgado tem como resposta fisiológica a liberação de bradicinina, serotonina e enteroglucagon, juntamente com líquido extracelular.
Na prática clínica, os sintomas da síndrome de dumping podem ser classificados como precoces ou tardios, dependendo de quanto tempo após a ingestão de alimentos eles ocorrem. Os primeiros sintomas ocorrem cerca de 10 a 30 minutos após a refeição. Os sintomas iniciais mais comuns são: necessidade de deitar, palpitação, hipotensão arterial, taquicardia, fadiga, tontura, sudorese, dor de cabeça, rubor, calor, sensação de saciedade, dor e plenitude epigástrica, diarreia, náusea, vômito, cólica, inchaço, e borborigmo. Posteriormente, de 1 a 3 h após a ingestão de alimentos, manifestam-se os sintomas tardios: transpiração, tremor, dificuldade em concentrar-se, perda de consciência e fome. O dumping tardio está estritamente relacionado à ocorrência de hipoglicemia reativa e pode estar mais ligado a alterações nos hormônios gastrointestinais e na secreção de insulina.
Como tratar a síndrome de dumping?
A terapia nutricional é geralmente suficiente para controlar o dumping. Resumidamente, o tratamento baseia-se em retardar o esvaziamento gástrico. Entre as dicas nutricionais estão:
- Ingestão de refeições pequenas, mas frequentes;
- Evitar a ingestão de líquidos no período de 30 minutos de uma refeição sólida;
- Evitar consumo de açúcares simples;
- Aumentar a ingestão de fibras e carboidratos complexos;
- Aumentar a ingestão de proteínas.
É possível atribuir ao dumping papel na perda de peso, através do condicionamento negativo ao consumo dos alimentos de alta densidade calórica. E isso acaba sendo o que atrasa a procura dos pacientes por ajuda. Alguns pacientes sentem que “só assim não comem sorvete ou docinho de aniversário”. Claro que o ideal é a reeducação alimentar! É preciso ter qualidade de vida reestabelecida após a cirurgia. Em outras palavras, “comer e não passar mal!”.
Os sintomas tardios e mesmo a hipoglicemia reativa também podem ser evitados bebendo suco de laranja ou comendo mel 1 hora após ingesta alimentar. Isso, sempre, de forma bem cautelosa, afinal estas orientações precisam ser sempre individualizadas e fornecidas por profissional capacitado.
A terapia nutricional é a primeira abordagem terapêutica e normalmente controla os sintomas, mas há medicamentos úteis a alguns pacientes a partir de critérios diagnósticos médicos.
Se você apresenta estes sintomas, procure ajuda! Confie no profissional que lhe acompanha.
Referência: Obes Facts 2017;10:597–632