Estudos têm demonstrado que o consumo regular de chá verde reduz o risco de câncer, protegendo contra seus eventos iniciais e retardando a progressão da doença. Neste texto, comento sobre quais propriedades do chá verde estão relacionadas ao desenvolvimento de células cancerígenas. Do mesmo modo, falo sobre alguns estudos ligando a substância ao câncer de mama.
Propriedades do chá verde
O chá verde é um produto da planta Camellia sinensis e apresenta em sua composição mais de 200 substâncias, sendo as mais conhecidas os polifenóis. A Epigalocatequina-3-gallato (EGCG) é o principal polifenol presente no chá verde. Em estudos experimentais, tal polifenol tem demonstrado atividade em inibir a formação e o crescimento de tumores em diferentes modelos animais de câncer humano. Esta inibição é associada com a diminuição da proliferação celular, aumento da apoptose (morte celular programada) e a supressão da angiogênese (crescimento de vasos próximo as células alteradas). De fato, estudos experimentais sugerem um efeito sinérgico e aditivo do EGCG com terapias convencionais contra o câncer.
Em estudos pré-clínicos, o EGCG também promoveu melhoria dos efeitos colaterais relacionados aos quimioterápicos graças às atividades anti-inflamatórias e antioxidantes. Em particular, um estudo demonstrou efeito benéfico do EGCG na redução do dano cardíaco resultante do tratamento com doxorrubicina.
Um olhar mais específico sobre os estudos com humanos relacionados ao câncer de mama
A combinação de catequinas do chá verde com tamoxifeno ou paclitaxel parece uma estratégia segura e atrativa para aprimorar o tratamento de câncer de mama tanto receptor estrogênio positivo quanto negativo. Dois estudos observacionais japoneses mostraram que o consumo de, no mínimo, 5 xícaras de chá verde em pacientes com câncer de mama estão associados a um menor risco de recorrência, particularmente naqueles com doença em estágio inicial (I e II), enquanto nenhuma melhora foi observada em pacientes em estágio III. Recentemente, um estudo de coorte prospectivo de base populacional de 5.042 pacientes em Xangai, China, relacionou a ingestão de chá (cerca de 100g de folhas secas/mês) durante os primeiros 60 meses após o diagnóstico de câncer com melhor sobrevida entre mulheres com câncer de mama triplo negativo.
Dúvidas sobre o tema
Como toda dúvida cientifica tem dois lados, alguns pesquisadores elucidam a presença de fatores de confusão nos estudos epidemiológicos. Por exemplo, a ausência de consumo de álcool nos indivíduos com hábito de chá verde. Mas, recentemente (2019), foi publicada uma revisão sistemática com meta-análise de estudos de caso controle, que investigou a associação entre o consumo de chá verde com casos de câncer de mama. Foram incluídos 14.058 indivíduos com câncer de mama e 15.043 controle. Verificou-se associação negativa entre o hábito de beber chá verde e câncer de mama futuro (odds ratio 0,83; intervalo de confiança de 95%: 0,72-0,96).
Em suma, o chá verde é consumido com segurança há milhares de anos, sem restrição de eventual toxicidade. Desta forma, pode-se fazer a recomendação de uso. Contudo, faltam estudos clínicos que forneçam um detalhamento de dose/frequência de consumo para prescrição dietoterápica da bebida para prevenção e tratamento de câncer de mama.
Obs: Atenção deve ser dada à quantidade de cafeína presente na infusão.
Referências:
NUTRITION AND CANCER. DOI:10.1080/01635581.2019.1637006
Medicine (Baltimore). DOI: 10.1097/MD.0000000000016147.