Durante o tratamento oncológico, um dos efeitos colaterais que os pacientes costumam apresentar são quadros de diarreia. Entenda por que o problema aparece, quais as causas da diarreia e o que fazer para minimizá-lo – seja durante o câncer ou não.
Conhecendo um pouco mais sobre o problema
Antes de mais nada, vale explicar o que é o quadro de diarreia. As principais características da diarreia são o aumento do número de evacuações e a perda de consistência das fezes, que se tornam aguadas. Frequentemente, é definida como duas ou mais evacuações líquidas em período de 4 horas. Quando o quadro é grave, observa-se 7 a 8 evacuações em 24 horas. Uma das piores complicações da diarreia é a desidratação, que leva à fadiga e a desequilíbrio eletrolítico. Deve ser corrigida de forma rápida e eficaz para conforto e saúde do paciente, evitando, assim, complicações.
As causas da diarreia podem ser várias, dentre elas: intoxicação alimentar, intolerância à lactose, excesso de laxantes, disfunção de motilidade intestinal e efeito de medicações. Dentre os medicamentos que causam diarreia estão os antibióticos, antieméticos (como metroclopramida) e vários quimioterápicos (irinitecano, 5-fluoracil, metrotrexato, docetaxel, cisplatina, dactinomicina, trioxido de arsênico, gefitinib, oxaliplatina, capecitabina).
Por outro lado, quando pensamos em intoxicação alimentar, há vários microrganismos que podem ser responsáveis. Infecção gastrintestinal por bactérias, vírus, parasitas ou fungos pode causar diarreia. Clostridium difficile (C.difficile) é uma bactéria que causa inflamação do cólon (colite) e, possivelmente, diarreia.
Diarreia e câncer
Pessoas com câncer frequentemente desenvolvem diarreia relacionada ao tratamento do câncer. Frequentemente, este é um dos mecanismos comumente desencadeados durante o tratamento: as células que revestem o trato gastrointestinal (GI) se dividem rapidamente, de modo que podem ser facilmente danificadas por tratamentos como quimioterapia, radioterapia, transplante de células-tronco ou terapia direcionada. Este dano faz com que o revestimento do intestino fique mais fino e incapaz de funcionar adequadamente, fazendo com que as fezes fiquem mais macias e aquosas do que o normal.
Do mesmo modo, a diarreia pode ser causada durante o tratamento por:
- Enterite ocasionada por radiação, quando a radioterapia na região do abdome ou pélvis causa inflamação;
- Insuficiência pancreática, quando ocorre produção insuficiente de enzimas necessárias para ajudar a digestão no intestino;
- Câncer pressionando a medula espinhal;
- Doença do enxerto contra hospedeiro (GVHD) após transplante de células;
- Cirurgia gastrointestinal;
- Sensibilidade alimentar;
- Estresse e ansiedade.
Além das evacuações líquidas pode ocorrer: gás ou flatulência, cólicas, inchaço, perda de peso, desidratação, dor retal, sangramento ou corrimento.
O diagnóstico é feito pelo médico. É ele quem vai solicitar exames, fazer anamnese e definir estratégia terapêutica – que, frequentemente, inclui mudanças na alimentação. Comumente, a causa não é alimentar e, portanto, a conduta dietoterápica visa minimizar os efeitos, auxiliar a deixar mais lento o trânsito intestinal e promover reidratação. Porém, estas condutas não substituem a medicação, são normalmente realizadas em paralelo.
Condutas alimentares que podem auxiliar no tratamento da diarreia
Cuidados com a hidratação
- Deve-se ingerir líquidos claros, não carbonatados (sem gás), sem cafeína e sem álcool. Você pode consumir água, refrescos (sucos sem açúcar bem diluído), soro caseiro, caldos com pouca gordura, água de coco, isotônico e picolés caseiros sem açúcar.
IMPORTANTE: se a diarreia for grave, você pode precisar de reposição de fluidos intravenosos para repor a perda de água e nutrientes. Procure ajuda!
Sugestão de mudanças nas escolhas e comportamento alimentar
O que comer
- Opte por refeições menores porque são mais fáceis de digerir. Tente comer 6 a 8 pequenas refeições ao longo do dia.
- Escolha alimentos com baixo teor de fibras. Estes alimentos incluem banana, arroz, purê de maçã, purê de batatas, torradas secas, biscoitos, ovos, canja, macarrão tipo “cabelo de anjo” e massa de arroz (bifun), peixes e aves magras.
- Coma alimentos ricos em potássio, pois é necessário repor o potássio perdido. Esses alimentos incluem: suco néctar de damasco ou pêssego ou laranja (diluídos e coados); bananas, purê de batatas.
- Consuma alimentos formadores de goma: amido de milho, tapioca, sagu, polvilho, farinha de arroz, arroz branco.
O que evitar
- Evite alimentos ricos em fibras, pois aumentam a motilidade do intestino e levam maior quantidade de água para o intestino. Estes alimentos são: cereais integrais, granola, casca de frutas, folhas cruas, casca de feijão e de outras leguminosas.
- Não consuma café com cafeína, chá e álcool, pois podem estimular a atividade intestinal.
- Não consuma alimentos que são laxantes naturais, como ameixas, suco de ameixa, mamão, bagaço de laranja e bergamota. Gomas e balas diet e doces feitos com adoçantes (como sorbitol ou manitol) também podem agir como um laxante.
- Evite alimentos e bebidas muito doces e/ou ricos em gordura, como carnes gordurosas, alimentos fritos, chocolate quente, caldo de cana, azeite de dendê, molho branco ou de queijo, abacate, nata…
- Se estiver com gases, evite os alimentos que estimulam maior produção destes: feijão, ervilha, vegetais crus, frutas cruas, brócolis, milho, repolho, couve-flor, refrigerantes e chicletes.
- Alimentos altamente condimentados também podem estimular mais diarreia e desconforto, portanto evite-os.
- Leite e os produtos lácteos podem piorar a diarreia. A intolerância à lactose pode se desenvolver se o corpo não produzir lactase suficiente. Avise ao nutricionista se observar desconforto. Se você desenvolver intolerância à lactose, podemos optar por leite ou produtos lácteos com redução de lactose.
Além das orientações nutricionistas, outras dicas são válidas para quem sofre com o problema. Repouse, aumente seu cuidado pessoal e invista em seu conforto.
Diarreia grave ou em longo prazo podem trazer consequências incômodas. Entre elas, você pode sentir-se muito cansado, a parte inferior do abdômen pode tornar-se bastante dolorida devido a cãibras intestinais, e a pele retal pode ficar muito dolorida (assaduras).
Caso você apresente algum desses incômodos, mesmo que já esteja tratando a diarreia, fale com seu médico. É importante buscar sempre as melhores condições físicas para enfrentar o tratamento oncológico com toda a força.